quinta-feira, 23 de abril de 2009

OSCAR WILDE, O DÂNDI

Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde (Dublin, 16 de outubro de 1854 — Paris, 30 de novembro de 1900) foi um escritor irlandês.

E como diria Basil,
Um livro moral ou imoral é coisa que não existe.
Os livros são bem escritos, ou mal escritos.
E é tudo.(O diário de Dorian Gray)

BIGRAFIA - Criado numa família protestante, estudou na Portora Royal School de Enniskillen e no Trinity College de Dublin, onde sobressaiu como latinista e helenista. Ganhou depois uma bolsa de estudos para o Magdalene College de Oxford.
Wilde saiu de Oxford em 1878. Um pouco antes havia ganhado o prêmio "Newdigate" com o poema "Ravenna".
Passou a morar em Londres e começou a ter uma vida social bastante agitada, sendo logo caracterizado pelas atitudes extravagantes.
Foi convidado para ir aos Estados Unidos a fim de dar uma série de palestras sobre o movimento estético por ele fundado, o esteticismo, ou dandismo, que defendia, a partir de fundamentos históricos, o belo como antídoto para os horrores da sociedade industrial, sendo ele mesmo um dandi.
Em 1883, vai para Paris e entra para o mundo literário local, o que o leva a abandonar seu movimento estético. Volta para a Inglaterra e casa-se com Constance Lloyd, filha de um rico advogado de Dublin, indo morar em Chelsea, um bairro de artistas londrinos. Com Constance teve dois filhos, Cyril, em 1885 e Vyvyan, em 1886. O melhor período intelectual de Oscar Wilde é o que vai de 1887 a 1895.

O SUCESSO - Em 1892, começa uma série de bem sucedidas comédias, hoje clássicos da dramaturgia britânica: O Leque de Lady Windernere (1892), Uma mulher sem importância (1893), Um marido ideal e A importância de ser fervoroso,(ambas de 1895). Nesta última, o ar cômico começa pelo título ambíguo: Earnest, "fervoroso" em inglês, tem o mesmo som de Ernest, nome próprio
Publica contos como O Príncipe Feliz e O rouxinol e a rosa (que escrevera para os seus filhos) e O crime de Lord Artur Saville.
O seu único romance foi O retrato de Dorian Gray.
A situação financeira de Wilde começou a melhorar cada vez mais, e, com ela, conquista uma fama cada vez maior. O sucesso literário foi acompanhado de uma vida cada vez mais mundana. As atitudes tornaram-se cada vez mais excêntricas.

OS JULGAMENTOS E A PRISÃO - Em Maio de 1895, após três julgamentos, foi condenado a dois anos de prisão, com trabalhos forçados, por "cometer atos imorais com diversos rapazes".[1] Wilde escreveu uma denúncia contra um jovem chamado Bosie, publicada no livro De Profundis, acusando-o de tê-lo arruinado. Bosie era o apelido de Lorde Alfred Douglas, um dos homens de que se suspeitava que Wilde fosse amante. Foi o pai de Bosie, o Marquês de Queensberry, que levou Oscar Wilde ao tribunal. No terrível período da prisão, Wilde redigiu uma longa carta a Douglas.
A imaginação como fruto do amor é uma das armas que Wilde utiliza para conseguir sobreviver nas condições terríveis da prisão. Apesar das críticas severas a Douglas, ele ainda alimenta o amor dentro de si como estratégia de sobrevivência. A imaginação, a beleza e a arte estão presentes na obra de Wilde.
Após a condenação a vida mudou radicalmente e o talentoso escritor viu, no cárcere, serem consumidas a saúde e a reputação. No presídio, o autor de Salomé (1893) produziu, entre outros escritos, De Profundis, o clássico anarquista, A alma do homem sob o socialismo e a célebre Balada do cárcere de Reading.

OS ÚLTIMOS ANOS - Foi libertado em 19 de maio de 1897. Poucos amigos o esperavam na saída, entre eles o maior, Robert Ross.
Passou a morar em Paris e a usar o pseudônimo Sebastian Melmoth. As roupas tornaram-se mais simples, e o escritor morava em um lugar humilde, de apenas dois quartos. A produtividade literária é pequena.
O fato histórico de seu sucesso ter sido arruinado pelo Lord Alfred Douglas (Bosie) tornou-lhe ainda mais culto e filosófico, sempre defendendo o amor que não ousa dizer o nome, definição sobre a homossexualidade, como forma de mais perfeita afeição e amor.
Oscar Wilde morreu de um violento ataque de meningite (agravado pelo álcool e pela sífilis) às 9h50min do dia 30 de novembro de 1900.
Em seu leito de morte Oscar Wilde foi aceito pela Santa Igreja Católica Romana e Robert Ross, em sua carta para More Adey (datada de 14 de Dezembro de 1900), disse "Ele estava consciente de que havia pessoas presentes, e levantou sua mão quando pedi, mostrando entendimento. Ele apertou nossas mãos. Eu então fui enviado em busca de um padre, e depois de grande dificuldade encontrei o Padre Cuthbert Dunne, que foi comigo e administrou o Batismo e a Extrema Unção - Oscar não pode tomar a Eucaristia".
Wilde foi enterrado no Cemitério de Bagneux fora de Paris, porém mais tarde foi movido para o Cemitério de Père Lachaise em Paris. Sua tumba em Père Lachaise foi feita pelo escultor Sir Jacob Epstein, a requisição de Robert Ross, que também pediu um pequeno compartimento para seus próprios restos. Seus restos foram transferidos para a tumba em 1950.

A OBRA - Wilde foi grande porque conseguiu escrever para todos as formas de expressão em palavras, embora tenha sido menos conhecido em algumas delas.
Em seu único romance, O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde trata da arte, da vaidade e das manipulações humanas. Aliás, é considerado por muitos de seus leitores, como a maior obra-prima, sendo rica em diálogos.
Já em novelas escritas por ele, como a maioria de todos seus escritos, Wilde criticava o patriotismo da sociedade. Isso fica claro na novela O Fantasma de Canterville.
Em seus contos infantis sempre tratou da criança que vive em cada um de nós, com lições de moral na mais bela e pura forma com linguagens simples. O Filho da Estrela (ver em Ligações Externas), é exemplo disso.
No teatro, escreveu nove dramas, que inclusive fizeram sucesso na época.
Wilde poeta usou a poesia simplesmente talvez para ampliar a sensibilidade para as artes, embora não seja muito conhecido nesse campo. É recomendado ler Rosa Mystica, Flores de Ouro.
FONTE: WIKIPÉDIA



O Diário de Dorian Gray

Os dedos calmos deslizavam sobre as folhas do livro. Estava um dia ameno. Sem muito sol ou mesmo calor em Londres. A cidade amanhecia em seu constante fog. Não havia conseguido dormir direito. As palavras daquele homem ainda ecoavam na mente de Dorian. “A vida moral do homem faz parte dos temas tratados pelo artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista quer demonstrar coisa alguma. Até as verdades podem ser demonstradas.” Ergueu os olhos negros daquelas paginas de papel papiro amarelados.. e os voltou para o objeto recoberto com o tussor de seda rubro carmim. Ali estava a verdade retratada. A verdade que Basil havia conseguido extrair da essência de Dorian. Ilustrada em um quadro que jamais teve coragem para olhar. Talvez porque aquele quadro refletia tal como um espelho suas íntimas verdades. Aquelas que um homem de bem e íntegro negaria a todo e qualquer custo. A verdade exibida mesmo através daquela expressão graciosa e bela que estava pintada na tela. A figura de um adônis de marfim e pétalas de rosas. A figura dele mesmo, Dorian Gray tal como era. E porque aquele quadro lhe causava tanto incômodo interior, se era uma obra tão bela e bem trabalhada? Talvez não fosse o quadro e sim as palavras de Basil que ainda ecoavam em sua mente.. Suspirou fundo fechando o livro e deixando-o sobre a mesinha de madeira escura ao lado da cadeira de leitura e ergueu-se caminhando até o objeto coberto. Deixando a ponta dos dedos alvos e delicados tocarem a superfície de madeira da moldura daquele quadro. Suspirou levemente, lembrando-se dos momentos em que fora modelo para aquilo. Baixou os olhos negros e os cabelos densos e negros como o abraçar da noite lhe caiam no rosto pálido. Puxou o relogio de bolso, pela correntinha dourada que pendia sobre o colete acinzentado do paletó. 20:00h e onde estava Basil? Que mania insuportavelmente indelicada de atrasar-se para todos os compromissos. Havia um baile na corte e Dorian era convidado de Lady Brandon. Haviam vantagens em pertencer a corte, mesmo que se insista em manter a casa com móveis velhos e ares sombrios como era a sua própria. Ainda assim havia um certo reconhecimento que sua figura trazia. E a própria companhia do nem tão educado Basil, que fazia questão de esquecer da pontualidade que lhe deveria ser caracteristica. Como era a todos os britânicos. Basil fazia apenas para irritá-lo, só poderia ser. Apenas pq Dorian presava a etiqueta. Era um baile e como todo baile sempre haviam lindas damas em vestes que lhes acentuavam os volumosos seios sob os vestidos, rendas e anáguas. Sorriu retirando os dedos de cima do tecido e guardando o relógio. Teria tempo.. tempo para começar a escrever suas memórias. Nem se lembrava desde quando havia decidido que tornaria registros suas memórias, aventuras ou devaneios. Na verdade talvez fosse a vontade de falar para alguém quando não desfrutava da companhia do pintor. Talvez fosse a necessidade de não depender tanto do querido amigo. E sim, de poder contar a algo, nem que fossem folhas de papel seus temores, ou mesmo desejos. Sim.. escreveria um diário. Um diário que o retratasse quase tão bem quanto esta maldita pintura que fazia questão de esconder de si mesmo no sótão. Deu as costas para o quadro e caminhou para a porta para sair do sótão. Descia as escadas calmamente, a calça num tom de cinza claro, tão bem talhada pelas mãos de Francian seu alfaiate lhe empregava um ar mais jovial, talvez pelas cores. Talvez pela moda do corte e caminhava pela sala até o escritório, sentando-se com calma à mesa. Puxava a pena, o papel papiro e suspirava de leve. Depois teria que dar um jeito de encadernar, mas isso faria com o tempo, quando as folhas começassem a se amontoar. Quando as historias corressem o risco de se confundir. Sorriu imaginando o que diriam se de repente por um acaso do destino seus escritos caíssem em mãos alheias. O que diriam as senhoras recatadas e seus trajes negros como as aves de mau agouro.. o que diriam os padres e seus conselhos de redenção? As jovens moças ele sabia: enrubeceriam mas apertariam as folhas entre os arfantes seios e os levariam para guardar abaixo dos travesseiros e ter sonhos e mais sonhos dos quais os anjos da guarda se envergonhariam. Os jovens rapazes menos tradicionais talvez o tomasse como herói ou ídolo.. exemplo a seguir. Os mais ortodoxos o chamariam de devasso.. Riu-se enquanto umidecia a pena na tinta negra e as letras bem desenhadas começavam a surgir naquela amarelada folha de papel. Seu diário seria um livro. E como diria Basil, Um livro moral ou imoral é coisa que não existe. Os livros são bem escritos, ou mal escritos. E é tudo.

SATURDAY, APRIL 29, 2006

(por Biel, posted by Outras Historias)

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