quarta-feira, 18 de novembro de 2009

UM DURANGO NA DASLU - DENIS CAVALCANTI - PEQUENA BIOGRAFIA


Sempre tive vontade de conhecer essa tal de Daslu.
Já que estava em São Paulo , por que não ir? Ainda mais depois que me disseram que lá não existe nenhuma peça que custe menos de três dígitos, resolvi dar uma de São Tomé e ver para crer.
A entrada já foi um problema. O segurança perguntou pelo meu carro - ou motorista. Quem já foi sabe muito bem: na Daslu - acreditem - não se entra a pé, somente motorizado.
Fingi que não era comigo e entrei.
Fui recepcionado por uma loira escultural com sorriso de anúncio de dentifrício, uma sósia escrita e escarrada da Ana Hickman - com direito a 1m30 de pernas, chapinha no cabelo, olho azul e muito mais.

- 'Where are you from?'.

- 'Belém do Pará'.

- 'I beg your pardon!'

Tava na cara que eu não era paulistano. Mas daí a me confundir com gringo, já é demais. Eu lá tenho cara de estrangeiro! Como um cão sabujo, onde eu ia, ela ia atrás.
Dos milhares de itens que admirei boquiaberto, um em particular me encantou. Uma bolsa tiracolo Prada pra lá de maneira que imaginei que coubesse no meu orçamento.
Ressabiado, indaguei o preço.

- 'Nove, apenas nove. E o senhor pode dividir em três vezes no cartão'.

- 'Nove o quê?'

- 'Nove mil...'

- 'ARRE ÉGUA"!!!

A pequena ficou tão assustada com minha reação que cheguei a pensar que fosse chamar os seguranças. Mas não.
Acho que ela sacou que daquele mato não sairia cachorro, no máximo um carrapato.
Fechou a cara, deu meia-volta e sumiu.
Já que estava na chuva, resolvi me molhar.
Entrei num salão onde só tinha Armani. Como já estava enturmado, perguntei o preço de um 'vestidinho' de festa. Adivinhem? 100.000 pilas. Tu és doido! Uma estola de zibelina? 60.000 ..
Fico imaginando quantos bichinhos foram sacrificados para esquentar o lombo de uma madame.
Um blaser Ermenegildo Zegna (isso lá é nome de grife?), 13.000 .
Um óculos Gucci, 4.500.
Uma cuequinha básica do Valentino, 260. Com direito a ouvir essa pérola do vendedor:
- 'Leve logo meia dúzia, tá na promoção!'.Imaginem quanto ela custava antes.

Na adega climatizada não foi diferente. Um Romaneé-Conti, safra 2000 - aquele do Lula - estava por módicos 8.000 reais. Uma garrafa de Johnnie Walker Blue, envelhecida 80 anos - uma das raras existentes no planeta, 55.000.

Fiz as contas e verifiquei que no final saí no lucro.
'Charlei', vi gente famosa, coisas bonitas, tomei mineral Badoit, capuccino, Prosecco, champanheTaittinger, fartei-me de canapés, fois gras, blinis com caviar (não era Beluga). Sou duro, mas sei o que é bom. Até confit de canard tracei. De quebra, profiteroles e apetitosos bombons trufados.
As horas passaram voando. Minha acompanhante finalmente apareceu e perguntou:

- 'Vamos almoçar?'

- 'Almoço? Estou almoçado e jantado!'

Depois de conhecer quase tudo descobri que a Daslu é uma espécie de zoológico sem grades. Só que os bichos somos nós. Eu e você. Acabado, me esparramei num confortável sofá. Enquanto esperava o resto da turma chegar, abri um livro e relaxei. Mal virei a segunda página, dois novos ricos falando alto, com mais sacolas do que mãos, sentaram ao meu lado esnobando:

- 'Amanhã vamos para o nosso haras em Catanduva( São Paulo) O réveillon será no Guarujá'.

Me deu uma raiva... Peguei meu celular e resolvi mentir um pouco:

- 'Paulo, não encontrei nenhum 'Summer' para o réveillon. Abastece o jatinho.

Partimos amanhã cedo para Paris. Essa Daslu tá um lixo!'

A cara que os dois fizeram, não tem preço...

 
Gostou? Eu também, só que quando li, não conhecia o autor, mas como boa pesquisadora do Google que sou fui a caça de informações. Descobri que o autor é Denis Cavalcante (homônimo do artista plástico, mas não é ele, não se engane) Leiam este artigo, não é uma biografia, mas pelo menos dá para conhecer um pouco melhor o trabalho do Denis. Dá também para perceber que virei fã. Para mais crônicas de Denis Cavalcanti acessem O LIBERAL - DIGITAL

Quando os cronistas se encontram

Edição de 15/12/2008

Há 26, quase 27 anos, os leitores de O LIBERAL conhecem João Carlos Pereira. Denis Cavalcante também é velho - mas não tanto - conhecido dos leitores. João começou a escrever crônicas em 1982, num caderno que era a continuação do primeiro e que, na Redação, tinha o curioso nome de 'rabo'. Lá é que se publicavam as notícias de variedades, artes e espetáculos. Com o surgimento do Caderno 'Mulher', foi levado para o suplemento feminino. Quando surgiu um espaço só para cronistas, a coluna 'Bom Dia', mais uma vez mudou de lugar. Foi no 'Bom Dia' (inaugurado pelo João, a convite do redator-chefe, Walmir Botelho) que Denis Cavalcante e João Carlos Pereira encontraram-se, depois de percorrer caminhos paralelos no mesmo jornal. Quem lê o Denis, lê o João e vice-versa. A partir de agora, os dois mais antigos cronistas de O LIBERAL poderão ser lidos de uma vez só, sem que haja necessidade de se esperar pela sexta-feira, dia do Denis, ou pela segunda, do João. Eles estão juntos no livro 'Rio Memória', que será lançado hoje, a partir das 19 horas, na Assembléia Paraense da Presidente Vargas.

A experiência de fazer um livro a quatro mãos nasceu da amizade entre Denis e João. Eles se conheceram em 2002. A amizade não nasceu de uma vez. João Carlos Pereira e Denis Cavalcante foram, aos poucos, se encontrando. Eleito para a Academia Paraense de Letras, João viu o Denis começar a freqüentar a APL. Quando decidiu concorrer a uma vaga, no Silogeu, Denis tinha garantido, apenas, o voto do acadêmico Hilmo Moreira ('tudo é culpa do Hilmo', acusa). Nesse momento, João Carlos entrou na campanha e ajudou o novo amigo. Era outubro e, por um voto (um acadêmico esqueceu de mandar a cédula para os três escrutínios, certo de que o Denis se elegeria na primeira rodada e, ao enviar apenas uma voto, impediu a eleição do cronista) perdeu a eleição. Na noite em que foi proclamado o resultado, apenas Hilmo Moreira, eleitor da primeira hora, e João Carlos foram ao apartamento do quase-imortal para dizer que não desistisse. Tomaram uísque, conversaram e conseguiram dele compromisso de não desistir. Poucos meses depois, enfrentando outra campanha, foi eleito.


NA APL


Tanto Denis, quanto João, sabem que chegaram à APL a bordo das crônicas que publicaram em O LIBERAL. 'Tenho dito e escrito que minha vida mudou de rumo, depois que cheguei ao Jornal. Sem O LIBERAL e sem a Fundação Romulo Maiorana, onde trabalhei por muitos anos, pouco ou nada teria feito', agradece João. 'Meu caso é igual ao do João. Se o Walmir (Botelho - diretor-redator-chefe de O LIBERAL) não tivesse acreditado em mim, eu estaria no mais completo anonimato', diz Denis. As crônicas de 'Rio Memória' foram publicadas, inicialmente, em O LIBERAL e mostram Denis e João em sua melhor forma. 'Nós precisamos dizer muito obrigado também ao Altino Pinheiro, presidente da Imprensa Oficial, que muito tem ajudado a Academia e muito tem feito pelos autores paraenses. Nós temos uma dívida de gratidão para com ele', reconhecem os autores.

Denis Cavalcante é livreiro, jornalista (pertence, inclusive, à Academia Paraense de Jornalismo) e chef da cozinha do badalado restaurante 'Baú Bistrô'. No quarto ano do curso de medicina, resolveu que não queria ser médico e mergulhou no mundo dos livros. João Carlos é jornalista, pertence ao Conselho Estadual de Cultura do Pará e é professor universitário. O tempo não revela a dimensão da amizade que une os dois acadêmicos. 'O Denis sempre teve um amigo que fosse o contraponto dele. É agitado, irrequieto, fala alto e diz o que pensa, antes de pensar. O João é o inverso: é calmo, ponderado e só fala depois de muito pensar. O curioso que o Denis gosta de pessoas assim. O Luis Roberto Meira era como o João e os dois foram irmãos. O João, hoje, é o irmão que o Denis não teve', compara Rejane Cavalcante, esposa do Denis. 'O João e o Denis são água e vinho. Mas o João gosta muito do Denis. Gosta dele como um irmão. Quando o telefone dele toca antes de 8 horas, eu já sei: é o Denis. E isso é todo dia, todos os dias do ano. Quando o Denis não liga, ele liga', entrega Emília Farinha Pereira, esposa do João. 'São dois cronistas da melhor qualidade. Posso dizer que O LIBERAL está muito bem servido com eles. O João e o Denis seriam cronistas de primeira grandeza em qualquer lugar do Brasil. Para nossa sorte, eles estão em Belém', elogia o presidente da APL, acadêmico Édson Franco, que deu posse aos dois. 'Eles já preparam três belas antologias para a Academia. Este é, portanto, o quarto trabalho que fazem a quatro mãos’, acrescenta

Cronistas do cotidiano, Denis e João têm estilos bem diferentes, mas, no geral, tratam, essencialmente, do ser humano. 'O João diz que eu escrevo para fora e ele, para dentro. Pode ser. Não sei bem o que é isso, mas acho que ele tem razão'. 'O Denis é mais um contador de histórias. E isso ele faz como ninguém. Eu tenho outro jeito de fazer crônica. Vou mais pelos caminhos da alma. Mas cada um é cada um e assim como há crônicas do Denis que eu gostaria de ter assinado, há textos meus que ele garante que roubaria para dizer que eram dele. Na verdade, nós somos amigos fraternos e isso basta', finaliza João.

Belém, Quarta, 18/11/2009

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